domingo, 20 de março de 2011

A REVOLTA DE JIRAU.




 

19/03/2011 - 09h36min - Atualizado em 19/03/2011 - 09h36min
Abusos, corte de vantagens e até violência física foram as causas da revolta em Jirau
Atualizada: Obras não serão mais retomadas nesta segunda-feira.
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Da reportagem do TUDORONDONIA
Atualizada às 10h35
Porto Velho, Rondônia - Trabalhadores da Usina de Jirau que residem em Porto Velho disseram nesta sexta-feira à reportagem do TUDORONDONIA que a revolta no canteiro de obras da Camargo Corrêa e a explosão de violência no local são conseqüências de uma série de conflitos e abusos por parte da empresa contra os operários. A briga entre trabalhadores e motoristas de uma empresa terceirizada foi apenas o estopim para a revolta, que era latente e ganhou intensidade com o corte de hora extra, adicional noturno, entre outras vantagens suprimidas do contracheque dos operários. “Eu gosto de trabalhar na Camargo, mas ultimamente a situação tem ficado insustentável, com encarregados praticando assédio moral direto em cima da gente”, diz uma trabalhadora que mora em Porto Velho e foi chamada para prestar assistência na capital aos operários que saíram de Jirau após o quebra-quebra das instalações e incêndio de mais de 50 ônibus. "Sai de lá corrida com medo da violência. Andei dez quilômetros até arrumar uma carona. No meio do caminho, só via gente que se achava o tal (encarregados) tirando a farda e jogando no meio do mato com medo de indetificação por parte dos 'foguinhos' - o pessoal que ateou fogo em tudo" acrescenta à trabalhadora. Segundo ela, o pânico era generalizado e todo mundo gritava: "Tira a farda que eles querem pegar os encarregados! Por via das dúvidas, eu, mesmo não sendo chefe de nada, joguei a farda no mato e meti sebo nas canelas (correu)".
          COMENTÁRIO DE Pinto Teixeira Bartolomeu.
“É difícil acreditar no que está escrito acima, como é possível uma construtora como a Camargo Correa, permitir este tipo de tratamento animalesco, e torturante com trabalhadores em seu canteiro de obra? Como o ministério do trabalho pode fechar os olhos para estas condições degradante em que se encontram os trabalhadores da construção civil em quase todo o Brasil? Como é possível uma empresa colocar em seus canteiros de obra, seguranças e pessoas, sem um mínimo de conhecimento de RH, sem preparo para lidar com grande contingente de trabalhadores de obra?” É lamentável.
          Eu tenho 60 anos e mais de 40 só de construção civil, nunca trabalhei na Camargo Correa, porem, conheço-a de perto, pois já trabalhei em trecho de grandes obras onde a Camargo Correa também estava. É difícil acreditar que seja a Camargo Correa que esteja agindo assim com os seus trabalhadores que hoje, por uma questão de holística, não somos mais chamados de “peões” mais de colaboradores.
          Sou de um tempo que construtoras como, Camargo Correa, Cetenco, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão, eram chamadas por nós, ”peões”, de mãe; Mãe, Camargo, Mãe Cetenco, Mãe, Mãe Andrade, É claro que aqui e ali havia algumas confusões por causa de alimentação, ou por causa de horas extras, mais estas desavenças eram logo resolvidas entre o peão, e seu encarregado, que muitas vezes mandava que o apontador corrigisse a folha de pagamento daquele trabalhador, e tudo voltava às boas.
          Naquele tempo, os encarregados e os mestres de obra tinham autoridade plena nos canteiros de obra, eram eles, os mestres e encarregados que mantinham os trabalhadores na linha, controlando os mais exaltados, por estes e outros motivos, a figura do mestre de obra era tida como a figura de um paizão.
          Raramente se via um peão desobedecer ao mestre, pois nós sabíamos que era aquele mestre que poderia pedir a nossa classificação, era o mestre que mandava abonar a tua falta, quando por algum motivo o peão precisava sair,era ao mestre ou o seu encarregado que ele recorria.
          Segundo o que hoje se vê,a coisa mudou muito, os encarregados viraram torturadores, exploradores daqueles a quem, eles como encarregados deviam proteger,já que são eles que produz e fazem as obras do País.naquele tempo, nos peões éramos registrados diretamente nas empresas,tínhamos orgulho de mostrar a nossa carteira de trabalho e dizer:olha aqui,eu estou trabalhando na Camargo Correa,veja a minha carteira!
          Era uma honra pertencer ao quadro de empregado das empresas citadas acima, hoje a realidade é outra, estas grandes construtoras já não fazem mais obras,elas se corromperam,são estas empresas que mantém as eleições dos políticos corruptos, e se prostituem com o membro erétil da ganância, e quando ganham uma licitação viciada,são obrigadas a repassarem aquela obra,para uma terceirizada, que geralmente pertence a políticos, cujo dinheiro usado nas campanhas saíram das próprias construtoras,que em outrora eram orgulho para o Brasil.Quando um operário diz que a comida esta ruim, pode acreditar, pois o peão não inventa no máximo ele aumenta, porque quando ele fala, ou já é, ou foi, ou está pra cer.
          O salitre é há tempos usado para ajudar nos cozimentos de grandes quantidades de alimentação, para uma grande quantidade de trabalhadores,e tambem,segundo dizem;Para diminuir o desejo sexual da peonzada. Eu me lembro de quando estava trabalhando na obra da ponte Rio Niterói, estava alojado no canteiro na ilha do fundão, naquele tempo era vivido a repressão militar, nós, os peões sentíamos muita do de barriga, e perdíamos dias de trabalho porque éramos acometidos de diarréia causada pela péssima qualidade da comida e pela adição Salitre.
        Embora o setor da construção civil esteja atravessando um dos melhores momentos na sua historia, as empresas do setor não atentaram verdadeiramente para o lado social do trabalhador do setor. Os sindicatos são submissos aos empregadores, não tem liderança forte, a rotatividade do setor é muito grande, ainda existem empresas admitindo pessoas analfabetas. Neste setor ainda é grande, o descumprimento das normas e das leis. Embora o trabalhador da construção civil, tenha uma linguagem característica, e nem sempre culta, pois é recheada de gírias e figuras de linguagem porque lhe damos com pessoas não letradas, sabemos dos nossos direitos, embora por ouvir dizer.
A MATÉRIA CONTINUA DIZENDO QUE;

Além das questões trabalhistas e do assédio moral, a comida (péssima, na avaliação dos operários) é outro foco de discórdia. “A gente é proibido de trazer um vidro de pimenta para tentar mascarar o sabor da comida que, suspeita-se, sofre adição de salitre. A aparência é ruim e o sabor, pior ainda”, conta o operário Luiz, que, “por necessidade”, pretende continuar trabalhando na Camargo Corrêa. "O cardápio aqui é variado: sola de sapato (bife), boi ralado (carne moída), cobrão (peixe, tipo bagre, carregado no colorau), bife de zoião (ovo), tudo preparado com 'capricho' pra ficar bem ruim mesmo. E o pior é que a gente paga por isso e não tem alternativa, pois estamos a vários quilômetros da cidade mais próxima", acrescenta. “É bom que as pessoas saibam que, embora o clima de revolta fosse geral, apenas alguns 'peões' rodados participaram do quebra-quebra e dos incêndios. São pessoas aliciadas pela Camargo Corrêa em outros estados, com promessas de vantagens e mais vantagens. Brincar com peão é coisa perigosa. Essa gente é sem eira nem beira e não tem nada a perder, e deu no que deu. Todo mundo falava que isso ia acontecer. Inclusive tinha gente lá que sabia da intenção de tocar fogo em tudo, pois me contaram que já haviam feito isso em outras obras de outros estados”, relatou um encarregado Perguntado sobre a ação do Sindicato da Construção Civil para levar estas queixas à gerência da Camargo, o encarregado emendou: "É tudo um bando de pelego, vendido pra construtora. Esse povo perdeu a moral aqui, e se aparecesse no local na hora da revolta, teríamos sindicalistas enforcados e grelhados na brasa". Todos pediram para não ter o nome citado na reportagem temendo algum tipo de represália por parte da empresa. Há relato de casos de violência física por parte de funcionários da Camargo Corrêa contra operários, que relataram os fatos os fatos aos ministérios públicos Federal, estadual e do Trabalho, que ouviram também queixas contra “os preços exorbitantes dos produtos no canteiro de obras”. Os trabalhadores também reclamam do descumprimento de contrato trabalhistas em relação à folga a que têm direito a cada quatro meses de trabalho. Numa reunião nesta sexta-feira com os ministérios públicos do Trabalho, Federal e Estadual, as reclamações contra a Camargo Corrêa mostraram que, diferente do que diz a empresa, as relações trabalhistas no canteiro de obras nunca foram normais. Durante a reunião, trabalhadores e dirigentes sindicais relataram que havia crescente clima de insatisfação dos trabalhadores de Jirau com a empresa Camargo Corrêa por causa dos critérios de divisão da Participação nos Lucros (PL) realizada no final do ano, existência de violência física sofrida pelos empregados, atribuída aos funcionários da Camargo Corrêa; ocorrência de vencimento de “baixadas” (folgas de campo concedido aos trabalhadores pela empresa a cada quatro meses de trabalho) e prática de preços exorbitantes dos produtos oferecidos aos trabalhadores pela empresa Camargo Corrêa. Segundo eles, a insatisfação contribuiu para a crise que se instaurou na usina na terça-feira, dia 15 de março. A agressão de um trabalhador por três motoristas de ônibus foi o estopim para o início dos acontecimentos. Os trabalhadores solicitaram que as medidas trabalhistas que forem adotadas contemplem todas as empresas, inclusive as terceirizadas. O consórcio Energia Sustentável do Brasil, responsável pelas construções da hidrelétrica de Jirau, informou que as obras continuarão paralisadas, diferente do que havia anunciado anteriormente quando divulgou que os trabalhos em Jirau reiniciariam nesta segunda-feira.